Com o crescimento do mercado de arte no Brasil, colecionar deixou de ser um hábito restrito a especialistas e passou a refletir estilo de vida, identidade e conexão com a cultura.
O interesse por arte contemporânea vive um dos momentos mais vibrantes dos últimos anos. Feiras, exposições e novos espaços culturais se multiplicam em São Paulo, ampliando o acesso e convidando novos públicos a mergulharem nesse universo. Segundo uma pesquisa da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT) e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), mercado de arte no Brasil movimentou R$ 2,9 bilhões em 2023, um aumento de 21% em relação ao ano anterior. O número equivale a 0,89% do mercado global de arte, o que indica grande potencial de crescimento do país.
Na contramão da ideia de que é preciso muito dinheiro ou conhecimento técnico para começar uma coleção, obras contemporâneas se apresentam como a principal porta de entrada a esse mundo. Jovens e profissionais de diferentes áreas, cada vez mais, estão interessados em investir em peças artísticas como forma de expressão pessoal e de patrimônio cultural.
O relatório Art Collector Insights 2024, da Artsy, por exemplo, mostra que 80% dos colecionadores entrevistados mantiveram ou aumentaram o orçamento destinado a aquisições em 2023 comparado a 2022, e revela tendências de compra online e valorização de artistas emergentes entre colecionadores mais jovens.
Ao mesmo tempo, uma pesquisa do Bank of America com mais de mil de clientes nos EUA com mais de US$ 3 milhões em ativos revelou que, entre os respondentes com 43 anos ou menos, 83% possuem ou querem ter uma obra de arte – taxa bem superior aos 34% entre as pessoas com mais de 43 anos.
A arte contemporânea é a produção artística criada a partir da segunda metade do século XX até os dias atuais, caracterizada pela pluralidade de linguagens, técnicas e conceitos. Diferentemente dos movimentos anteriores, ela não busca apenas a estética ou a representação fiel da realidade, mas sim provocar reflexão, questionar valores sociais e propor novas formas de diálogo entre artista, obra e público. Instalações, performances, videoarte, fotografia e intervenções urbanas convivem lado a lado em um cenário em que a ideia — e não apenas a técnica — ganha protagonismo.
O essencial, dizem os especialistas, é olhar, se informar e criar repertório — algo que pode começar em visitas a galerias, feiras e espaços híbridos, como a Casa Osten, em Pinheiros, que combina arte, gastronomia e experiências culturais em um mesmo ambiente.
“A arte está em toda parte, e isso é o que a torna tão fascinante. O que antes era restrito a galerias e colecionadores especializados hoje faz parte do cotidiano, está nas ruas, nos cafés, nos espaços de convivência. O importante é se permitir olhar e encontrar obras que dialoguem com você, mais do que com o mercado”, afirma Guilherme Deodato, responsável pela Casa Osten.
O espaço de arte da Casa Osten ocupa uma estrutura de 14,5 por 6,4 metros, com fundo infinito de 7,5 metros, ideal para projeções impactantes e montagem de vernissages nacionais e internacionais. Atualmente, recebe a mostra individual de Renan “Nypes”, cujas obras transitam entre o sensível e o contemporâneo, abrindo nova temporada de diálogo entre público e criação autoral.
“Estar em contato com os talentos emergentes, frequentando os espaços de artes e pesquisando sobre os artistas e suas visões, é o primeiro passo para quem quer iniciar uma coleção”, explica Deodato.
A seguir, seis dicas essenciais para iniciar uma coleção de obras de arte contemporâneas.
1) Aprenda a “ler” trajetórias (antes de olhar o preço)
Para reconhecer um artista promissor, mire em sinais de consistência: participação em exposições institucionais, prêmios e presença em feiras sérias. No Brasil, o Prêmio PIPA é um dos indicadores de relevância contemporânea (acompanhe artistas indicados, selecionados e premiados). A recorrência em programas e prêmios tende a construir capital simbólico, que influencia demanda futura.
Obviamente, apenas um número limitado de artistas recebe a atenção de janelas como essa, o que não significa que outros não sejam relevantes para o gosto pessoal de cada colecionador.
2) Saiba onde comprar (com segurança)
As galerias são o núcleo do mercado primário, onde as obras entram no circuito pela primeira vez, diretamente dos artistas ou de seus representantes. Já as feiras de arte, como SP–Arte e ArtRio, funcionam como vitrines do setor, reunindo galerias, tendências e diferentes faixas de preço em um mesmo espaço. Bienais e mostras institucionais, por sua vez, têm foco curatorial e ajudam a consolidar o prestígio simbólico dos artistas. No mercado secundário, as obras são revendidas por meio de leilões, galerias especializadas e plataformas digitais, onde os preços tornam-se públicos e servem de referência para o valor de mercado e a liquidez das obras.
3) Diversifique por linguagem
Pintura, escultura, fotografia, cerâmica, obra em papel e múltiplos/edições têm dinâmicas de preço e liquidez diferentes. Edição limitada e obra em papel tendem a ser porta de entrada mais acessível; pinturas e esculturas únicas, quando há carreira consistente, costumam ter maior teto de valorização (e maior volatilidade). Mas lembre-se: se seu foco é valorização patrimonial, arte é um investimento de longo prazo e de baixa liquidez.
4) Onde vender (e como formar preço)
Para revender uma obra, as casas de leilão são o principal canal do mercado secundário, definindo o preço por meio de competição pública entre compradores. O processo envolve catálogos, exposições pré-leilão e estimativas de valor, que servem como referência inicial. No Brasil, referências como James Lisboa Leiloeiro e Bolsa de Arte realizam pregões presenciais e online — inclusive via plataformas como iArremate — com etapas de avaliação e exposição das obras. Antes de consignar, é fundamental solicitar estimativas por escrito, compreender as taxas aplicadas ao vendedor e os prazos de liquidação após a venda.
5) Atenção com os documentos
Exija COA (Certificado de Autenticidade), nota fiscal, proveniência (histórico de proprietários e exposições), condition report e, quando houver ou fizer sentido, referência em catálogo raisonnè. O COA é peça básica de credibilidade no primário e no secundário; sem documentação, a liquidez cai drasticamente.
6) Seja paciente
Se o seu foco é ter uma coleção para valorização de patrimônio financeiro, saiba que isso leva tempo. O mercado de arte é de nicho e responde mais à reputação e à trajetória do artista do que a modismos passageiros. Relatórios internacionais de arte e investimento indicam que coleções bem-sucedidas são construídas com visão de longo prazo, e não por decisões especulativas. A valorização real costuma ocorrer quando o artista consolida sua carreira — com exposições institucionais, prêmios e curadorias — e quando a obra tem proveniência documentada e consistente. No fim, paciência é parte essencial do retorno.

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