Natal, fim de ano e a urgência do tempo: por que esse período desperta ansiedade, angústia e a sensação de “fim de mundo”?

O Natal e as festas de final de ano, tradicionalmente associadas à celebração, ao encontro familiar e à esperança, também costumam trazer à tona sentimentos intensos de ansiedade, angústia e uma curiosa — e recorrente — sensação de urgência, como se o tempo estivesse se esgotando. Para muitas pessoas, o período é vivido com pressa excessiva, cobranças internas e uma percepção de que “algo precisa ser resolvido antes que o ano acabe”.

Segundo a psicóloga e psicanalista Araceli Albino, presidente do SINPESP (Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo), esse movimento emocional é profundamente simbólico. “O fim do ano funciona como um marcador psíquico. Ele convoca o sujeito a fazer balanços, revisitar perdas, fracassos, desejos não realizados e expectativas que não se cumpriram. É como se o calendário ativasse uma contagem regressiva interna”, explica.

A especialista destaca que a sensação de pressa e de “fim de mundo” não está necessariamente ligada a eventos reais, mas a vivências inconscientes. “O encerramento de um ciclo desperta fantasias de finitude. Para algumas pessoas, isso se manifesta como ansiedade; para outras, como melancolia, irritabilidade ou um sentimento difuso de vazio”, afirma Araceli.

As festas também intensificam comparações sociais, idealizações de felicidade e cobranças relacionadas à família, sucesso profissional e realização pessoal. “Existe uma expectativa cultural de que todos estejam felizes, realizados e cercados de afetos. Quando a realidade não corresponde a esse ideal, o sofrimento psíquico tende a aumentar”, pontua.

Araceli Albino ressalta ainda que o excesso de compromissos, consumo e estímulos contribui para o esgotamento emocional. “A pressa não é só externa. Ela é psíquica. É como se houvesse uma urgência em ‘dar conta da vida’ antes do dia 31 de dezembro.”

Para atravessar esse período de forma mais saudável, a psicanalista reforça a importância de acolher os próprios sentimentos, sem se submeter a expectativas irreais. “Nem todo Natal precisa ser feliz. Às vezes, ele é apenas possível. Reconhecer limites, respeitar o próprio ritmo e buscar escuta qualificada quando necessário são atitudes fundamentais de cuidado emocional.”


Araceli Albino é Doutora em Psicologia pela Universidad del Salvador (Buenos Aires – Argentina) e Pós-doutoranda em Docência Universitária pela IUNIR (Rosário – Argentina). Graduada em Psicologia pela Universidade de Uberaba, possui pós-graduação em Psicanálise e Linguagem pela PUC-SP e especializações pelo Instituto Sedes Sapientiae. É psicanalista didata, com atuação clínica individual e em grupo desde 1988. Ex-presidente e atual vice-presidente do SINPESP, é idealizadora da Clínica Social “Ana Joaquina”, coordenadora de cursos de Psicanálise e autora dos livros Encontros e Desencontros na Clínica das Psicoses e Neurose Obsessiva: a Máscara da Morte.

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