Jovens desafiam o modelo tradicional de carreira e forçam empresas a se adaptarem

Com Geração Z e millennials prestes a dominar 74% da força de trabalho até 2030, as empresas enfrentam um dilema: como reter talentos que rejeitam o velho script corporativo? Um novo estudo da Deloitte revela que essas gerações priorizam bem-estar, aprendizado contínuo e propósito — e não necessariamente cargos de liderança ou carreiras lineares. Apenas 6% desses jovens têm como ambição ocupar altos cargos executivos, sinalizando uma ruptura com a lógica hierárquica tradicional.

Mais do que benefícios pontuais, esses profissionais esperam ambientes de trabalho que promovam crescimento pessoal e emocional. Andre Purri, CEO da Alymente, explica que o paradoxo está no fato de que, embora valorizem capacitação e desenvolvimento, muitos relatam que seus gestores não oferecem suporte real nessa direção. “Isso expõe um descompasso entre o discurso corporativo sobre ‘gente no centro’ e a experiência cotidiana nas empresas”, diz.

O avanço da inteligência artificial generativa amplia essa tensão. Cerca de 75% dos entrevistados acreditam que a IA transformará suas rotinas até 2026, mas poucos sentem que estão sendo preparados para isso. Em vez de treinamentos técnicos isolados, os jovens buscam uma formação mais ampla, que combine habilidades digitais, inteligência emocional e pensamento crítico. A demanda por uma liderança mais empática e pedagógica nunca foi tão evidente.

Outro sinal de mudança está na relação com o trabalho formal e a educação superior. Um terço da Geração Z optou por não seguir o caminho universitário, alegando custos altos e baixa aplicabilidade prática. Apesar disso, a satisfação com a carreira entre diplomados e não diplomados é praticamente a mesma — o que desafia a centralidade do diploma como passaporte para o sucesso profissional.

Num mundo marcado por crises simultâneas e imprevisibilidade — a chamada “permacrise” —, o papel da liderança também está sendo redesenhado. “CEOs são convocados a atuar como gestores de resiliência, promovendo culturas organizacionais mais adaptáveis, transparentes e conectadas. Diante desse novo cenário, entender as motivações da força de trabalho jovem é mais do que uma questão de retenção: é uma estratégia de sobrevivência”, destaca.

Leave a Reply

Your email address will not be published.